Depois da Newsletter passada “A Verdade Nua & Crua”, nos voltamos nesta edição para “A Verdade Crua & Nua”. Não sei se quem pensou neste ditado tinha o mesmo interesse que nós em moda e alimentos, mas é fato que estes dois setores andam de mão dadas nas pressões, desafios e busca de soluções para modelos mais transparentes e sustentáveis.
Nesta Edição, viramos o olhar da Moda para a Alimentação, e prestamos homenagem ao Professor Celso Lemme, notório pesquisador nas temáticas de sustentabilidade, governança corporativa que passa a integrar de forma generosa nosso a Rede Transparência e que há mais de uma década coleciona publicações e prêmios no tema de bem-estar animal (BEA). O contato com o Celso é motivo de orgulho e fonte de aprendizado para todos nós. Seu olhar crítico e sua prolífica produção intelectual mostra caminhos para que as empresas percebam não só o potencial de impacto, bem como as oportunidades que se colocam a frente com o crescente interesse dos diversos stakeholders em BEA.
Outro dia ouvi de uma amiga a frase: “no futuro, nossos descendentes vão olhar para trás e dizer – ‘como nossos antepassados eram primitivos… matavam animais a sangue frio e comiam…’. Não ouso fazer esta projeção, mas não podemos fechar nossos olhos para o impacto que o conceito de BEA terá na indústria de alimentos nos próximos anos. Cabe a cada um escolher como se posicionar.
É inevitável também pensar que transparência é chave para empresas da indústria de alimentos. Seja para comunicar seu posicionamento em relação ao BEA, seja para garantir a ausência de ingredientes nocivos [em uma lista que só aumenta a cada dia…], seja para informar a procedência dos insumos produtivos, ou ainda para assegurar que seus produtos sejam produzidos sob condições adequadas de trabalho, empresas de alimento precisam avançar para modelos mais transparentes. Se o alimento for de comum consumo de crianças, o grau de preocupação e reação à falta de transparência é exponencial. Afinal, queremos nossos filhos melhores que nós.
Movimentos internacionais como o Simplifying Ingredient Lists e Clean label pressionam empresas a serem transparentes quanto aos ingredientes em seus produtos. No Brasil, a Rede Rotulagem reúne diversas empresas do setor e defende rótulos mais claros e informativos, que incluam quantidades de açúcar, gordura e sódio, por exemplo. Mas ao mesmo tempo, este tipo de iniciativa muitas vezes pressiona por menos alarmismo da sociedade e por mudanças na legislação que respeitem o ritmo e limitações das empresas participantes… buscando assim evitar denúncias. Posicionamentos como este tornam o processo de avanço da transparência mais lento.
Por fim, perguntamos – como avançar na transparência sem colaboração na cadeia de suprimentos? Tomando a cadeia produtiva de frangos no Brasil como exemplo, um estudo do nosso grupo de pesquisa em 2018 mostrou que em um comparativo com vestuário, automóveis, e aço, o setor produtivo de frangos era o de maior desequilíbrio financeiro entre produtores [mais fracos] e marcas [mais fortes; logo, o menos sustentável no longo prazo. Juntando resultados de pesquisas diversas, indicamos que as empresas do setor de alimentos precisam despertar para temáticas como BEA, práticas colaborativas que equilibrem financeiramente os elos da cadeia produtiva, maior transparência e fomento à inovação, se não quiserem ficar com água na boca… enquanto inovadores conquistam os stakeholders.
Curtas:
- Conforme prometido, na próxima semana vamos lançar esta Edição em formato podcast – desta formaoferecendo novo formato para aqueles que como eu estão usando os tempos de deslocamento para se atualizar [também vamos reproduzir as três edições anteriores]
- Atualizem em suas agendas: nosso II Fórum Transparência & Sustentabilidade em Negócios será nos dias 7 e 8 de fevereiro de 2020. O Fórum será organizado em parceria com o Instituto Rio Moda, que é liderado pelos brilhantes Roberto Meireles e Alessandra Marins. O time do Rio Moda entrará em contato em breve com todos os convidados para participar das Mesas Temáticas
- A partir desta Edição, incluímos a seção “Acervo de Resultados”, que reúne os posts feitos nas semanas anteriores em nossas mídias sociais. No acervo desta edição, mostramos o impacto positivo do algodão reciclado, a mudança de comportamento na adoção de copos biodegradáveis, e o baixo nível de monitoramento da cadeia de suprimentos de grandes empresas brasileiras nos temas de responsabilidade social e ambiental. Temos um longo caminho a percorrer…
Dr. Leonardo Marques
Professor do Instituto Coppead de Administração
Coordenador da Rede Transparência & Sustentabilidade em Negócios