Meu Querido Meio Ambiente,
À primeira vista, pode parecer que esta pandemia nos afastou… Afinal, já faz quase três meses que não te faço uma boa visita na praia, ou na lagoa… Passei uma vez por perto, mas não tive coragem de ficar e me alongar… Também não pegamos chuva juntos já tem um tempo… E aquela nossa brincadeira: eu correndo de um lado, e você com seu vento vindo na direção oposta… nem lembro qual foi a última vez, sabe… a verdade é que a gente só dá valor para aquilo que não temos mais…
Nestes dias de quarentena eu sempre te vejo de longe… clareando… escurecendo… ou então pelas fotos… Essa moda de mídias sociais funciona bem pra você… Vejo foto sua em todo lugar… Em Veneza, cheio de peixinhos ao redor… No céu da China sem fumaça suas estrelas apareceram tão bonitas… Tantos animais ocupando o espaço em centros urbanos esvaziados…
Não sei como você viaja tanto nessa quarentena… e como aguenta tanto Paparazzi… Bem, pelo menos assim consigo te acompanhar… E vejo que a quarentena te fez bem, olha só… Às vezes acho que enquanto eu engordo e fico cabeludo você vai sair dessa pandemia melhor do que entrou…
Você também aparece em mensagens, reportagens, relatórios de consultoria, estudos acadêmicos… é certamente meu amigo mais citado! Sinto que fala-se muito, porém poucos mudam realmente o comportamento com relação a você. E aí você com esse seu jeito: muito fotogênico, mas pouco comunicativo… ninguém te ouve… Seus amigos de verdade precisaram FALAR POR VOCÊ!
Sabe, tenho algo pra te confessar, hoje, neste dia especial. Este confinamento me fez refletir… e preciso admitir: quando era mais novo, não dava o valor devido para a nossa amizade… a gente se encontrava na praia e às vezes deixava o lixo pra você resolver sozinho…
Depois cresci, passei a dar valor ao nosso vínculo… mudei meu comportamento – você é testemunha! Só que recentemente, vendo você rodeado de tantos amigos… e de tantos inimigos também… confesso que cheguei a pensar: que diferença faz pra ele a minha amizade?
Agora refletindo enquanto escrevo esta carta, percebo que estava errado. Agora percebo que mesmo que você precise de muitos amigos para seus olhos voltarem a brilhar, suas ondas ficarem limpas, e seu ar mais puro, eu posso sim ser um destes amigos… posso fazer minha parte. Então te digo: estou aqui, para o que der e vier. Pode contar comigo. Vou me esforçar o quanto puder em nutrir a nossa amizade.
E olha, nada daquele “vamos marcar” de carioca… já tá marcado: quando tudo isso passar, um Nascer do sol e um Pôr do sol. Só eu e você.
E já ia me esquecendo: Feliz Aniversário! (Só comemoramos desde 1972, mas cá entre nós, você é bem mais velho que isso!)
Fique bem, enquanto a gente fica em casa,
Seu eterno amigo, Leo
Rio de Janeiro 05.06.20